Cara Helena Rubinstein

Diva da beleza da minha infância e pré adolescência: não aguento mais me cobrarem por ser desencanada quase chegando na minha versão 4.5… Lembro quando era “chovem” de suas propagandas nas revistas de mãe, tias e amigas da família, não entendia o que tanto todas tinham que se acabar tentando embelezar e desesperadamente na busca de não envelhecer. E não pararam o tempo. Nenhuma delas. Se pudesse acionar o Conar por propaganda enganosa antiga, certamente te colocaria no pau - fake news do mundo da beleza!
Não é pessoal contra você e sim contra as agências e marcas que há tempos imemoriais piram a gente com essa doideira de que o envelhecimento da mulher é abjeto. E isso entra pelos nossos poros, porque nunca, em tempo algum, me identifiquei com as tias encarando “estica-e-puxa e infla dali/ desincha dali” da indústria da beleza.
Mas porque então tô aqui a fim de tocar fogo no parquinho do massacre da beleza inatingível? Porque sempre preferi roupa larga, me arrumar só pra eventos extraordinários, visual ripongo, investir na beleza interna e teimar em não sucumbir à performance forçada da feminilidade compulsória. Mas quando cruzei a fronteira do 40 e poucos anos… Os enxeridos só faltam apontar revólver de tantas cobranças:
- O cabelo está branco!
- Seu colo está marcado sim… Você não passa nada?
- Você tem medo de ficar bonita…
- Eu passo batom até embaixo da máscara… Você não acha que sem ele fica pálida?
- Que nojento não depilar…
- Não vai ter filhos? Pq não? Cadê os filhos? Quem cuidará de você velha?
- Aproveita pra transar agora pq mais velha, terá ânimo nenhum pra isso.
Tanto, mas tanto, que mesmo sendo pé na porta e já tendo respondido virada no Jiraia, chegamos a um ponto borocoxô e sem tesão pra bater boca. E eu gostava de causar quando cobravam ficar “prenha”: “sou estéril” e emendava num choro cênico. Mas foram tantos os questionamentos que acho que veio de baixo da minha pele uma neura do envelhecimento: ah como era ruiva, loira, magra, desencanada e sei lá o que quando mais nova! Você me fez ficar sem graça de compartilhar as falas acima. Mas os xeretas e HR é que deviam ter vergonha!
Não sei se ainda faz propagandas trabalhadas no photoshop HR, as quais nunca serão passíveis de atingir, porque não devotamos a vida e o $ para desesperadamente nos embelezar. Mas se ainda ocupa páginas das revistas “não perca seu macho”, “dieta matadora em 90 dias”, “certo e errado da moda”, “como ser mãe e mulher maravilha”… Devíamos te jogar no rio HR. Algum bem podre de megalópole. Tipo meu vizinho Ribeirão dos Meninos, só pra provar que não existe mulher feia, existe mulher pobre.
Qual o problema de ser cobrada por não parar o tempo e não ser feito artista do entretenimento com $ para se manter sempre bela, até porque vive disso? Prefiro apostar nos meus super poderes bom humor, criatividade e auto cuidado mais profundo que retocar as raízes. Talvez por isso tenha lançado livros, feito projetos, dado formações, sido oficineira artística, me metido em feiras literárias e cruzado o país por espaços disputados nos Sescs nos últimos 7 anos. E porque estou me exibindo? PQ ENQUANTO MULHER, PROFESSORA, ARTISTA, PERIFÉRICA E QUARENTONA A COMUNICAÇÃO DE MASSA NOS CONVENCE DE QUE NUNCA É O BASTANTE!! E você atua fortemente neste sentido HR.
Não sei se você já foi desta para melhor HR. Mas escolhi não “gogar” antes, pra despejar minha raiva numa figura inodora e insípida feito você. Como diz uma das minhas tias “loucas da plástica”, você podia morrer atropelada numa descida pra escorrer o sangue. Nem ela que topa entrar na faca a todo custo te tolera HR. Recolhe também SEN-HOR os machistas, LGBTQIA+fóbicos, racistas e xenófobos… Porque vocês adoecem pessoas extraordinárias. E são crueis. E como já dizia o Augusto Boal “sem solidariedade não passamos de bichos, não nos tornaremos humanidade”. E não, isso não é violento. É uma reação legítima a nos pesarem com encanações sem sentido.
Também quero registrar que pra meu regozijo e sua ruína, seguir meus super poderes dá resultado. Me sinto bem por mais tempo caindo n’água duas vezes por semana do que ruiva matadora como antigamente. “Mirei no padre e acertei no bispo” com a musculação, muito mais do que quando caía no conto do vigário das vivências picaretas de autoconhecimento. Graças às aulas de canto, criei coragem para divulgar meus estudos com cantigas e percussão populares, que têm mais retorno nas redes do que minhas narrações, livros ou atuação na arte educação. E isso me convenceu da beleza da incompletude e me alegra saber que encoraja outras professoras e artistas em suas pesquisar informais. E a escrita, aquecimento e ensaios no Teatro da Encruzilha, sua Barbie…! Me fazem vivenciar que bonita é a mulher que faz o que ama. E tudo isso me permitiu a realização de que está tudo bem só me produzir linda para eventos “devezemquandários”. Tudo, absolutamente tudo mais gratificante do que tentar ser a funcionária, mulher, ficante ou amiga perfeitas como nos velhos tempos. E que bom que são velhos! Toda esta aposta neste auto cuidado mais profundo, de dentro pra fora trouxe a aceitação do meu buraco (que é o mesmo de muitas de nós): nossa imperfeição tem sua graça. E precisamos focar mais na necessade artística e sensível de criar beleza. Não a minha. A que se compartilha com todos. Mas você não entenderia HR
HR só pra finalizar ameaçadoramente te alerto que “aqui não Pantaleão”! Estamos ansiosas e batalhamos arduamente pelo grande dia em que nos gostaremos o suficiente para implodir a indústria número 1 da belez: o Brasil. “A mais valia vai acabar seu Edgar”! E será uma revolução ver derreter o quanto ganham minando nossa autoestima. O seu dia há de chegar HR! E aplaudiremos de pé como artistas que resistimos! Ou será uma revolução feminista… Ou não será!