Corpo esse irriquieto — um mapeamento

Me refaço entre memórias,
saudades e ralados ressignificados
Meus braços e pernas, quem diria?
se sustentaram n’água
na artificial que abre a respiração
que se acelera a cada incerteza
e nas afetivas - de mamãe Oxum
As mãos giram entre flores e borboletas
essas dançarinas reinventam, sonham com voos
e se fecham quando o sol se vai
Os pés finalmente têm raizes
porque nesse tempo fora do tempo
(quem diria… de novo!)
finalmente habitei esse corpo
Esse território meio festa, meio máquina, meio poética e meio ciência
Ele me surpreendeu em tempos de demência:
não há loucura alguma nele
(só no sistema, na vida urbana e na política)
esses lugares em que a sensibilidade é banida
(tudo bem: temos espaço para desgarrados aqui)
Esse corpo tem uma lua ao meio
não se abre espaço para ela na vida de antes
e sua quietude cíclica que demanda aos gritos
(e não é que na quarentena nos apaziguamos?)
Em algum lugar incerto desse corpo
há um coração que se quebra, fica em névoa
pinga, depois milagrosamente se regenera
Esse corpo se relacionou com um calendário
que pareceu infinito, duvidoso,
de folhas perdidas e até meio cênico
As ideias, essas fanfarronas, piscavam tanto
que eram meio lamparina e meio balão
Tanto que inquietas e imprevisíveis
provocaram pensamentos de espanto
A fala, esse siricutico, renovou trocas
E “de quando em vez” pra todo esse fluxo
uma pacificação respirada se fez presente
Já falei meu novo maravilhamento?
É você corpo de cores, movimentos e formas
a cabeça também: adorável irriquieta
Contei que criamos linguagem nessa ruína?
É um alumbramento e ele inclui retalhos,
tinta metálica, giz pastel e sobrevivência
Vamos ter muito o que contar
para netos nenhum:
mas ainda haverão gatos expectadores!