Ouvi sobre as couraças emocionais/ musculares de Reich quando fiz retiros de tantra e vivências em somaterapia. Ainda era “chovem”, mas tive a impressão de ser uma abordagem bem vinda para tensos e artistas. Anos mais tarde e após diversas trocas de pele minhas, um psicólogo tem levado dinâmicas dele às nossas reuniões pedagógicas semanais. É um programa da prefeitura: mas não comemore ainda! Walter atende várias escolas, meus estudantes quiseram se tratar com ele, mas não tem sala para individualizar o processo e temos espaçamento entre nossos encontros. E mesmo assim tenho refletido em movimento em nossos encontros:
- A gente faz isso no teatro!
- Como eles atendem tagarelas inquietas?
- Conheço esse jogo de outro lugar!
- Que resultados ele encontra noutros colégios quanto à integração da equipe?
- Nossas emoções interferem no processo…
- Sem repertório a gente se perde entre o gesto e a memória…
- Não consigo essa espontaneidade dos alunos…
- O tempo não empaca com as dinâmicas…
- A gente já vê o vídeo deleite noutro espírito ocupando e explorando o espaço…
- A gente precisava estudar isso no teatro…
Qual não foi minha surpresa quando há poucos dias ele me enviou o livro de jogos do Boal como uma de suas referências, para enviar aos colegas. Nessas horas penso que apesar da gestão reaça ter cortado as formações em Teatro do Oprimido (T.O.) que Santo André dava nas gestões progressistas pela construção do orçamento participativo, gente feito eu e ele seguimos multiplicando, onde pudermos.
A gente pode bater muita boca nas reuniões, tardes adentro… Mas nesses encontros o corpo descara, grita: quando está pé atrás, quando sente outra coisa, quando tem dor, quando surpreende, quando é mais competitivo ou parceiro do que imaginávamos, quando salta do movimento com o quadril para a vontade de dançar quadradinho de oito…
O mestrado tem me confirmado que pesquisar algo que se ama é possível — e disso não posso reclamar. Mas quando fantasio que depois dele estudarei cinema, educomunicação e Reich, desconfio que só essa linha terapêutica corporal se manterá mais tempo entre minhas vontades.
Qual o conflito entre esta artista-educadora e a abordagem de Reich na psicologia adaptada à educação? Parece uma pegadnha para uma escritora deixar escapar um texto tão maravilhado com estas dinâmicas na escola. Conflituosos somos nós — arteiros e reichianos em meio à educação cabeçuda. O pulo do gato será sobreviver em meio aos papéis e à filosofia “a nuca do coleguinha será meu deus”. Mais sobre estes embates nos próximos capítulos…