Sob os escombros da saúde mental

Há menos de uma semana defendi o mestrado que me tomou os últimos dois anos. Poucos dias depois acordei chorando, admiti que tinha que ir ao médico, por que toda higiene do sono e alternativas para dormir já tinham sido testadas. Foi uma pedreira pegar condução pra lá, num misto de angústia e ansiedade. Na espera, reparava irritantemente em cada detalhe e antecipei o choro. Vi que o médico tinha CDs e livros numa vitrine. Talvez tenhamos o que trocar, pensei. Não demorou muito, mas o tempo ralenta essas horas. Contei todo panorama, até que ouvi:
- Você está deprimida! Transbordando…
Parece que abriu a porteira de todo choro que nos últimos 7 meses mandei passar mais tarde. Só faltei barganhar pra agendar dia e horário pra chorar.
Pra variar, procurei sair pela tangente mencionando casos descarados de conhecidos deprimidos. Ele tinha um ponto: se está tudo bem e sigo chorando, com sono picado, já configura deprê…
Entre uma explicação e outra, olhei pra um quadro na parede e me ocorreu que a morte do pai possa ter sido o primeiro disparador. Porque foram alguns “engole choro” na sequência: cuidar da mãe, que não deixa, começar cuidar da tia, ferrar meu sono, ter uma decepção num espaço de acolhida que me quebrou na emenda…
Não deu pra falar muito das obras dele: saí rápido com o peso da receita no bolso. A gente precisa falar do estrago da academia na nossa saúde mental. Muita gente me desejou doutorado, não sei bem porque tantos rogando praga, mas obrigado não. Foram meses falando relatorialmente do meu pai e pondo qualquer coisa do mestrado na frente da vida. Nada disso aceita mais ficar num limbo afetivo, esquecido. Há dias choro, dou um tapa em casa, mas todo o resto parou.
Sinto muita solidão e uma amiga conta ter sentido o mesmo quando a mãe morreu. Talvez agora esteja velando a filha que já não sou — algo que outra amiga previa que aconteceria.
Ainda atravesso a tempestade num céu escuro e mar turbulento. Mas nunca mais com pesquisas e rascunho nas mãos.