São Luiz do Paraitinga e seus folguedos

Francine Machado De Mendo
3 min readAug 3, 2024

Voltando à paulista São Luiz do Paraitinga anos depois e paramentada com câmera profissional, pude registrar e me encantar com outras cores e rezas. A dança dos bastões por exemplo, chamada em São Paulo de maculelê, é uma prima da capoeira na capital, mas no interior é uma nação e se reza antes de começá-la. Seus passos e ritmos remontam às raízes afro brincante e musical, mas o que a sustenta é uma fé católica cabocla, diferente da que conheci em São Caetano: lá a agenda das capelas é mantida também com fiéis tocando os ritos.

Os foliões e o pouco que estudei de antropologia me convencem que a função da arte popular é sustentar os rituais. E como eles fazem falta em São Paulo! A ponto de encarar mais tempo de estrada do que curtindo os cortejos em São Luiz.

Outro ponto que me chamou a atenção foi tantas mães participando das apresentações populares com seus rebentos no colo. Isso é muito do que se busca na vida: pertencimento e acolhida, que às vezes não temos mesmo sem criança na capital.

Neste bate e volta fui com a Viva Rua, que organiza expedições fotográficas e tive um acidente de percurso: mudei a bolsa da câmera e a lente quebrou. A máquina precisa muito dos estofados de sua mochila original. De manhã fiz e divulguei cliques pelo celular, ainda contrariada de perder parte cara do equipamento. Mas no almoço uma amiga recém conhecida me emprestou lente- achei uma graça da parte dela e mais ainda com meus histórico desastrado — e à tarde fiz estes cliques, meio maravilhada de matar a saudade das festas populares brasileiras.

Quis escrever mesmo depois de um tempão — esta folia foi em maio — porque acabei de levar aulas sobre as raízes da cultura tradicional e meus aprendizados em viagens e registros em quilombos, eventos indígenas e festival caboclo. Muitos dos estudantes lembraram das festas e fés de suas regiões nordestinas.

Apesar do Sesc levar a fama de ser o Brasil que deu certo, acho que estas festas são outra banda brasileira que deu certo. Os participantes sustentam tudo na unha, meses ensaiando, cantando, costurando e aprontando muito e o poder público quando muito concede a eles as ruas. Tem todo um empenho similar ao Carnaval, mas mais amador e ingênuo. É impossível não amar tomando contato ao vivo e a cores.

E você, de que festas brasileiras tem saudade? De onde vem e o que se brinca em sua região de origem? Por aqui em Sampa, nossa tradição é festa junina, mas acho que a conexão da fé já se perdeu. Comenta por aqui e vamos trocar figurinha.

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Francine Machado De Mendo
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Written by Francine Machado De Mendo

Brincante,professora de artes na EJA escritora,"gateira",contadora de histórias,nadadora viajante,escritora, macumbeira,pesquisadora e batuqueira.

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