Um setênio no chão de escola municipal

Entrei oficialmente na crise dos 7 anos com a prefeitura. Numa única semana, dois dias na batida "parabéns pelo que"? No dia da comemoração desse “amor, estranho amor" rolou manifestação e paralisação no Paço Municipal. O sindicato conseguiu 1 hora a menos no dia de trabalho pela mobilização dos servidores. Talvez soe heresia para uma filha de sindicalista, mas tenho dificuldade de acreditar num protesto que protocole um aviso dias antes. Ainda mais para uma categoria que de acordo com o Dieese está defasada 16% com relação à inflação — o desgoverno Serra nos ofereceu 7% e parcelado. O sindicato não consegue resolver nem meu VT descontado e não carregado há meses… Nunca me senti tão feito a música de Cazuza “eu queria ter uma bomba". Mas ontem, pela 1a vez em muito tempo, tive um interlúdio em meio à barbarie: o psicólogo que atende a EJA (ano de eleição tem dessas né amiguinhos?) passou na escola para conversar comigo. Escrevi que acompanhei duas rodas de histórias deles, estava mexida com as narrativas de opressão e achava que não faria outras, porque não tenho o mínimo de estofo em arte terapia. Foi uma prosa ao pé do banheiro, mas gosto dessa pegada de roça urbana em Satãndré: ele queria saber como me sentia. Já tinha lido para os alunos Ripa Kaur, Paula Autran, Maya Angelou, mostrei Mel Duarte e a filha da Carolina de Jesus. Tudo para preparar porque fiz uma atividade diagnóstica com poesia do Bráulio Bessa. Quando voltei e falei que estava com o psicólogo, me tocou o quanto demonstraram precisar dele. Expliquei que ofereceram para nós, falamos deles, mas a escola não tem espaço privado pra isso e estamos nessa negociação. Talvez eu devesse começar capoeira hoje porque a raiva segue no talo. Recebi mensagens das minhas amigas emigradas para países desenvolvidos. É a primeira fase em que acho que podia ser negócio sair do país para qualquer trabalho chinfrim, só pra variar da sofrência machista para a xenófoba. O terapeuta acha que ao menos eu rio da minha desgraça. Para isso serve ser filha de sarristas. Um colega jurava que só eu na minha idade falo isso. Só eu para gastar folga refletindo meu novo ano em crise com a educação fundamental pública. Queria passar um corretor em algumas memórias desta longa temporada educativa. Este ano ou a gente muda o jogo ou ele nos dá xeque mate. Não era para fazer o exercício de escrita em fluxo da consciência no meu caderno do Caminho do Artista? Ontem meu aluno de redação criativa comprou esse livro da Júlia Cameron por indicação minha. Acho que preciso voltar a dormir…