É madrugada e rio alto

Nas esquinas da existência
toda sorte de surpresas
Muito mais espanto do que riso
E apesar das rasteiras, eu danço
A vida foge do meu alcance cotidianamente
A saúde e o direito dos que amo são atropelados
E a despeito do terremoto, invento passos
O esperado abrigo gera traumas e questionamentos
E o pertencimento já não se encontra em antigos refúgios
E contrariando tempestades, eu rodopio
A terra em que piso mudou o tom
E a esperança velha de guerra se esgarçou
E atravessando inundações, sigo em movimento
A velha inocência fugiu por entre os dedos
Talvez apagasse algumas cicatrizes
E mesmo entre o vendaval, eu assovio
A paisagem da janela anda meio desbotada
E a música que pacifica já não é mais a mesma
Muito embora o nevoeiro se espalhe, eu cantarolo
Os sonhos já tem um pé no chão em meio à terra vermelha da infância
O idealismo juvenil tem se evaporado
Cortando o maremoto, eu tamborilo
Dores inéditas ocupam prateleiras
E perdas recentes se enfileiram
É noite sem lua e ainda assim eu crio